Sistemas Adesivos: Evolução E Classificação

Sistemas Adesivos: Evolução E Classificação

Nas últimas 6 décadas aproximadamente, desde que Buonocore (1955) introduziu a técnica de condicionamento do esmalte com ácido fosfórico para melhorar a adesão, houve um progresso significativo nos sistemas adesivos para esmalte e dentina.

Os primeiros adesivos uniam resinas ao esmalte somente. As gerações subsequentes melhoraram dramaticamente a força de adesão à dentina e o selamento das margens dentinárias enquanto mantêm uma forte adesão ao esmalte.

Com mais pacientes exigindo restaurações estéticas livres de metal, o uso das resinas odontológicas como agentes cimentantes ou como restaurações diretas e indiretas tem aumentado.

Todas as restaurações diretas de resina exigem sistemas adesivos.

Dentre os atributos ideais dos sistemas adesivos, podemos citar:

  • alta força de união;
  • pequena espessura da camada de adesão para assegurar fácil e completo assentamento/adaptação das restaurações;
  • liberação de flúor* para auxiliar a prevenção de cárie secundária;
  • técnica simples em diferentes tipos de restaurações (direta e indireta, resina e cerâmica, e metal);
  • aplicável em ambientes secos e úmidos;
  • estabilidade.

Muitos autores não recomendam a classificação dos sistemas adesivos em gerações, e também há certa controvérsia sobre o número de gerações baseado em modificações sutis das formas de apresentação dos sistemas adesivos. Na literatura científica, alguns autores classificam em 4 ou 5 gerações, enquanto outros falam em 7. Particularmente, acho interessante avaliarmos a evolução dos materiais dentários. Didaticamente usarei neste post a classificação de 7 gerações de sistemas adesivos para facilitar a compreensão.


História dos Sistemas Adesivos

Primeira e Segunda Geração

A primeira e segunda geração de agentes de união utilizados durante a década de 60 e 70 não recomendavam condicionamento ácido da dentina, e se baseavam na adesão à smear layer (Dunn, 2003). A fraca força de união (2MPa-6MPa) à smear layer permitia infiltração dentinária com manchamento marginal (Van Meerbeek et al., 2001).

Terceira Geração

A terceira geração de sistemas adesivos dos anos 80 introduziu o condicionamento ácido da dentina e um primer separado desenhado para penetrar nos túbulos dentinários como um método para aumentar a força de união (Dunn, 2003). Estes sistemas aumentaram a força de união à dentina (12MPa-15MPa) e reduziram as falhas nas margens dentinárias. Com o tempo, entretanto, o manchamento marginal causava fracasso clínico (Van Meerbeek et al., 2001).

Quarta Geração

A quarta geração de sistemas adesivos do início da década de 90 utilizava substâncias químicas que penetrava os túbulos dentinários condicionados e descalcificados e o substrato dentinário, formando uma camada “híbrida” de colágeno e resina.  Fusayama et al. (1979) e Nakabayashi (1982) descreveram a penetração de resina na dentina com altas forças de união e um selamento dentinário. Kanca (1992) introduziu a ideia de “adesão úmida” com estes sistemas. Produtos nessa categoria incluem All-Bond® 2 (Bisco), OptiBond® FL (Kerr), e Adper Scotchbond® Multipurpose (3M ESPE). Esses sistemas adesivos têm os mais longos acompanhamentos clínicos registrados em pesquisas e têm boa performance clínica (força de união de aproximadamente 38MPa), apesar da técnica sensível, com ataque ácido em esmalte e dentina seguido de mais dois ou mais componentes também para esmalte e dentina. Devido à complexidade de passos e múltiplos frascos, a indústria enxergou uma demanda dos clínicos por um sistema adesivo simplificado.

Quinta Geração

A demanda trouxe a quinta geração de sistemas adesivos, introduzida em meados dos anos 90, com primer e adesivo em um único frasco enquanto mantinham altas forças de união. Exemplos de produtos nessa categoria incluem Excite (Ivoclar Vivadent), OptiBond Solo Plus® (Kerr), Prime and Bond® NT (Dentsply), e Adper Singlebond® (3M ESPE). Embalagens de dose única foram introduzidas. Ainda assim, um condicionamento ácido controlado, a umidade superficial e a inserção da resina continuavam sendo um desafio clínico para alguns profissionais.

Sexta Geração

A sexta geração de sistemas adesivos introduzida no final da década de 90 e início dos anos 2000 – também conhecida como “primers auto-condicionantes” – foram um grande avanço tecnológico. O passo separado de condicionamento ácido foi eliminado com a incorporação de um primer ácido que para ser utilizado em esmalte e dentina após o preparo dentário (Dunn, 2003). Muitas variações envolveram mistura do primer ácido e adesivo antes da colocação na dentina e esmalte, ou colocação do primer no dente e depois a colocação do adesivo sobre o primer. Alguns produtos nesta geração são o Clearfil® SF Bond (Kurarray), Simplicity® (Apex), Adper Prompt®, e L-Pop® (3M ESPE). Estes sistemas foram também relacionados com uma menor incidência de sensibilidade pós-operatória em relação a sistemas anteriores (Miller, 2002). Entretanto, a força de união à dentina e esmalte é menor que a quarta e quinta geração de sistemas adesivos (Van Meerbeek et al., 2001).

Sétima Geração

A última geração de sistemas adesivos são os adesivos “all-in-one” que combinam ácido, primer e adesivo em uma única solução (Miller, 2002). Estudos laboratoriais mostraram forças de união e selamento marginal iguais aos sistemas adesivos de sexta geração. Produtos nessa categoria incluem iBondTM (Heraeus), G-Bond® (GC), Complete (Cosmedent), Xeno® IV (Dentsply) e OptiBond® All-In-One (Kerr), sendo que os dois últimos liberam flúor. São adesivos simples de usar, e se encontra versões em frascos e embalagens de dose única. A resistência ao cisalhamento, um fator chave em adesivos dentários, varia consideravelmente, dependendo do adesivo utilizado.


Confira abaixo um infográfico com a evolução dos sistemas adesivos.


De acordo com Reis et al. (2007), a classificação dos sistemas adesivos por gerações está em desuso porque não descreve o que os adesivos realmente representam. Devido a rápida evolução dos materiais e técnicas, fica difícil atualizar esse sistema de classificação. Segundo os mesmos autores, no momento existe uma classificação preferencial, que se baseia na estratégia de ação (condicionamento ácido prévio – etch and rinse; ou auto-condicionamento – self-etching) e no número de passos utilizados durante o procedimento adesivo. Eles apresentaram a representação esquemática abaixo.

sistemas adesivos


Referências

Buonocore MG. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filling materials to enamel surfaces. J Dent Res. 1955;34(6):849-53.

Bowen RL. Properties of a silica-reinforced polymer for dental restorations. J Am Dent Assoc. 1963;66:57-64.

Fusayama T et al. Non-pressure adhesion of a new adhesive restorative system. J Dent Res. 1979;58(4):1363-70.

Calamia JR, Simonsen R. Effect of coupling agents on bond strength of etched porcelain. J Dent Res. 1984;63:62-362.

Nakabayashi N. Resin reinforced dentin due to infiltration of monomers into dentin at the adhesive interface. J Jpn Dent Mat Devices. 1992;1:78–81.

Kanca J III. Resin bonding to wet substrate. Bonding to dentin. Quintessence Int. 1992;23:39–41.

Van Meerbeek B, Inoue S, Pedigao J et al. In Fundamentals of Operative Dentistry, 2nd Ed. Carol Stream, Ill: Quintessence Publishing. 2001;194–214.

Miller MB. Self-etching adhesives; solving the sensitivity conundrum. Pract Proced Aesthet Dent. 2002;14:406.

Dunn JR. iBond® The Seventh Generation, One-Bottle Dental Bonding Agent. Compendium. 2003;24(2):14–18.

Nazarian A. The progression of dental adhesives. Academy of Dental Therapeutics and Stomatology. 2007.

Reis AF, Pereira PNR, Giannini M. Sistemas adesivos: atualidades e perspectivas. In: Macedo MCS, Baldacci Filho B. Jubileu de Ouro – CIOSP (eBook). 2007. p.85-118.


Este post obviamente não esgota o assunto sobre adesão e será atualizado futuramente. A intenção aqui foi apenas mostrar a evolução histórica dos sistemas adesivos, uma vez que a seleção adequada do tipo de restauração a ser realizada perante os desafios clínicos enfrentados é fundamental. Veja alguns outros posts relacionados de alguma maneira a esse assunto:


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Forte abraço!

Welington

10 Comentários


  1. Conteúdo esclarecedor esse sobre as gerações dos sistemas adesivos.
    Obrigada por contribuir para o conhecimento de outras pessoas.


    1. Olá Lucilene! Muito obrigado pelo feedback positivo. A sua participação é muito importante para mim. Fico feliz que tenha gostado. Fique à vontade para discutirmos novos temas aqui no blog. Forte abraço, Welington Pereira Jr.


        1. Olá Alex! Muito obrigado pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado. Continue acompanhando o blog e não deixe de cadastrar seu email. Forte abraço, WPJ.


    1. Opa Fernando! Muito obrigado pelo interesse e pelo compartilhamento. Fico feliz que tenha gostado. Forte abraço, Welington.


  2. Que surpresa!
    Pesquisando sobre adesivos, quem encontro??
    Parabéns Wellington, sempre competente.
    Ótimo site, conteúdo, fotos.
    Abraços
    Gislaine


    1. Olá Gislaine! Que legal lhe ver por aqui. Muito obrigado pela mensagem. Fico muito feliz que tenha sido útil de alguma maneira para você. Abração, Welington.


  3. Foi muito bom recordar está evolução passada dos adesivos……talvez eu tenha chegado um pouco atrasado….mas valeu.m


    1. Olá Evaldo! Fico feliz que tenha gostado. Muito obrigado pelo interesse e participação. Mas vem cá, atrasado? Para que? rsrs Nunca é tarde para começar! Forte abraço, Welington.

Comentários encerrados.